Fonte: Revista Veja - Editora Abril.
Primavera
Árabe e seus desdobramentos
A onda de protestos iniciada na Tunísia, em dezembro de 2010, se
espalhou pelo norte da África eOriente Médio e ainda
mostra reflexos em nações que lutam contra regimes autoritários. Em comum,
esses países possuem população majoritariamente islâmica, o que acrescenta aos
protestos e discussões questões de fundo religioso.
Assim como ocorreu no Brasil em 2013, os protestos da Primavera Árabe
foram em boa medidaarticulados pela internet. Mas foi nas ruas
das grandes cidades que as manifestações ganharam expressão, provocando reação
violenta de governos locais. Em alguns casos, o levante conseguiu derrubar
ditadores que estavam no poder havia anos. É o caso de Zine El Abidine Ben Ali, apeado do poder
na Tunísia após 23 anos no comando. Outro que caiu foi o presidente do Egito, Hosni Mubarak, no poder desde
1981. As duas nações elegeram novos presidentes através de eleições populares
em 2011.
As manifestações também levaram ao fim o governo do coronel Muamar Kadafi,
na Líbia. O ditador, no
poder desde 1969, foi assassinado em 2011 após intensos combates entre tropas
leais ao ditador e opositores. O último deposto foi Ali Abdullah Saleh, no
Iêmen, em 2012: ele estava no poder desde 1978.
A chegada da Primavera à região, contudo, não reduziu a tensão local,
tampouco a apreensão do resto do mundo sobre o futuro daquela porção do mundo.
Em alguns casos, a transição democrática é incompleta; em outros, ditadores
permanecem no poder. É o caso da Síria, que assistiu a
protestos pacíficos em 2011 contra o governo do ditador Bashar Assad e agora
está mergulhada em uma guerra civil sangrenta que já acumula mais de 100.000 vítimas fatais.
O Egito também voltou ao noticiário internacional. Interrompida a era
Mubarak, Mohamed Mursi foi eleito em junho de
2012. Membro da Irmandade Muçulmana, Mursi ampliou os próprios poderes e
acelerou a aprovação de uma Constituição de viés autoritário. Opositores foram às ruas contra o
governo e pediram a renúncia de Mursi, que falhou na estabilização política e
econômica nacional. No dia 3 de julho de 2013, o presidente foi destituído pelo
Exército. O chefe da Força, Abdel Fattah Al Sisi, anunciou a criação de um
governo de transição e a convocação de eleições.
'Importação'
de médicos cubanos
A
maioria dos médicos estrangeiros no Brasil são bolivianos (880), seguidos dos
peruanos (401), colombianos (264) e cubanos (216)
Em maio, o governo brasileiro anunciou que pode autorizar a imigração
de 6 000 médicos cubanos para
trabalhar no interior do Brasil, local carente desse tipo de
mão de obra. O anúncio não foi bem recebido pelo Conselho Federal de
Medicina (CFM), que alegou que não há falta de profissionais no
Brasil, mas má distribuição deles pelas regiões do território nacional.
Outra controvérsia a respeito é que o projeto aceitaria a atuação desses
profissionais sem exigir deles a realização do Revalida, prova de
revalidação do diploma obrigatória para quem se formou fora do
país e pretende atuar aqui. Possibilidades de intercâmbio em outras
áreas e com outros países estão na mira do ministro a Saúde, Alexandre Padilha.
Rui Alves Gomes de Sá, diretor pedagógico do curso Pré-Enem, da Abril
Educação, avalia que o assunto pode ser abordado no Enem sob a ótica do
imediatismo — ou seja, medidas paliativas adotadas às pressas para tratar de
problemas importantes. “Em lugar de planejar a formação de mais médicos e de
aprimorar a educação nacional, tenta-se resolver o problema de forma apressada,
sem análise de consequências”, diz Sá.
Deslizamento
de encostas nas temporadas de chuvas
Deslizamento
de terra na cidade de Petrópolis (RJ). Chuvas provocaram mortes e deixaram
centenas de pessoas desalojadas e desabrigadas
As consequências trágicas dos deslizamentos de terra, frequentes em
encostas brasileiras durante a temporada de chuvas de verão, são muitas vezes
agravadas pela ação humana. Ocupação de áreas de risco em morros, por exemplo,
são a causa mais comum. Isso não tira esses fenômenos, contudo, da lista
de catástrofes naturais, segundo avaliação
do professor de geografia Paulo Roberto Moraes, do cursinho Anglo. “As pessoas
falam que o Brasil não tem acidentes naturais, pois não temos vulcão, tsunami
ou terremoto, mas essa ideia é falsa. Deslizamento de encostas pode ser
considerado uma catástrofe natural local”, diz.
O caso recente mais marcante foi o ocorrido na região Serrana do Rio de
Janeiro, em janeiro de 2011, que deixou mais de 900 mortos e milhares de
desabrigados. As cidades mais afetadas foram Sumidouro, Nova Friburgo,
Teresópolis, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim.
Recentemente, em março de 2013, a região de Petrópolis foi atingida
novamente por fortes chuvas, que provocaram enchentes e deslizamentos. Mais de
30 pessoas morreram. Um mês antes, em São Paulo, uma mulher morreu durante
deslizamento que interditou parte da rodovia dos Imigrantes — que liga a
capital ao litoral.
Para efeito do Enem, é importante entender que os deslizamentos de terra
são fenômenos naturais. Isso significa que eles não são produzidos pelo homem —
embora sejam claramente intensificados pela ação humana. “Se eu permito o
povoamento de uma área de encosta onde há risco, por exemplo, acabo por
acelerar o processo natural. As consequências podem ser graves”, diz Moraes.
A principal ação humana que potencializa os deslizamentos é a
agricultura, que utiliza técnicas inadequadas para plantio em encostas e acaba
por precipitar o processo de erosão e de deslizamentos em época de chuva. A
segunda causa relevante é a ocupação para fins de moradia em locais de risco, e
de modo inadequado.
Há ações possíveis para atacar o problema. Entre elas, está a realização
de obras que estabilizam encostas, além da elaboração de planos municipais de
redução de risco. Para prevenir que esses acidentes naturais atinjam o homem, é
possível ainda realizar um mapeamento geológico das áreas de
risco, que aponta quais locais podem ser ocupados e como. Por fim, um eficiente
sistema de previsão meteorológica e
alerta pode ajudar.
Desenvolvimento
sustentável e economia verde
Rio+20
- Parque eólico em Dunas
O tema desenvolvimento
sustentável se relaciona não só com questões ambientais,
mas também com áreas como política, economia e urbanização. Assim, a
conhecida economia verde, que visa o
desenvolvimento minimizando danos ambientais e também a erradicação da pobreza, é um tema atual e
dinâmico que pode aparecer no Enem deste ano.
Uma abordagem possível é a que olha o tema do ponto de vista da
urbanização sustentável, que procura lidar com questões como a emissão de gases nocivos ao
planeta, a utilização consciente dos meios de transporte e a
construção de imóveis com menor impacto ao meio ambiente. “As construções
sustentáveis já são uma preocupação de diversas empresas. O próprio governo se
esforçou para que os projetos da Copa do Mundo incluam essa
preocupação”, diz Joel Pontim, professor de química do Cursinho da Poli.
Um terço da energia utilizada no mundo é consumida dentro de edifícios e
condomínios, e o setor de edificações é o que mais emite gases poluentes. A
construção civil responde por mais de um terço do consumo de recursos naturais,
incluindo 12% da água potável usada. Os especialistas consideram que prédios
públicos, como escolas e hospitais, são construções ideais para a aplicação de
conceitos sustentáveis, pois podem aproveitar melhor ventilação e iluminação
natural.
Energias
alternativas e matriz energética brasileira
Turbinas
de vento, para geração de energia eólica, instaladas na Prainha do Canto Verde,
próximo a Fortaleza, Ceará
Temas relacionados à geração de energia, incluindo novas fontes, têm
grandes chances de aparecer no Enem. “Energia constitui uma rede de assuntos
que se conecta com conhecimento de outras áreas. É o caso de física, química,
termodinâmica, meio ambiente e poluição”, diz Joel Pontim, professor de química
do Cursinho da Poli.
É importante, então, entender melhor as vantagens e desvantagens de cada
um dos elementos da matriz energética brasileira, a começar pelo Plano Nacional de Energia, que prevê a
construção de quatro novas usinas nucleares até 2030: se projeto for levado
adiante, Angra 3 deve ser inaugurada em 2015 —Angra 1 e 2 já estão em operação.
É fundamental também compreender as controvérsias envolvendo a
exploração de petróleo nas áreas do Pré-Sal e a
construção da usina de Belo Monte, no Pará — além
dos impactos dessas ações no meio ambiente. A leitura sobre energias alternativas, em
desenvolvimento no Brasil e no mundo, caso da eólica e o bagaço de cana, também
são obrigatórias.
O papel do
Brasil no mundo
Brasileiro
Roberto Azevedo, que assumirá posto de diretor-geral da OMC
Figurando no bloco das nações emergentes, o Brasil
ascendeu economicamente sem deixar de
lado a redução da desigualdade social, como apontou o recente Relatório de
Desenvolvimento Humano (RDH), do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud) 2013. A previsão é de que o país, juntamente
com China e Índia, respondam
em 2050 por 40% da riqueza global.
Outro indicador do prestígio do Brasil no mundo foi a eleição do
diplomata Roberto Azevedo para o posto
de diretor-geral da Organização Mundial do
Comércio (OMC) — ele assume o
cargo em setembro. É a primeira vez na história que um latino-americano alcança
o posto máximo da organização, dedicada a promover o comércio entre nações e
resolver litígios de transações entre elas.
“Como país emergente, o Brasil se tornou um ator relevante na discussão
de questões mundiais”, diz o professor Rui Alves Gomes de Sá, diretor
pedagógico do curso Pré-Enem, da Abril Educação.
Redução da
maioridade penal
Suspeito
da morte da dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, de 47 anos, na 2º DP de
São Bernardo do Campo
A discussão sobre a redução da maioridade
penal para 16 anos voltou
à tona em 2013 com o crescimento de crimes, muitos deles violentos, cometidos
por jovens com menos de 18 anos. Amudança é defendida
por políticos como o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), que propõe uma alteração no código
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — que prevê que um jovem seja
considerado culpado por suas ações apenas depois dos 18 anos. Isso faz com que
a privação de liberdade para menores de idade infratores não supere os três
anos.
O debate tem considerado a realidade de outras nações. Nos Estados
Unidos, por exemplo, não existe uma lei específica sobre idade mínima para
prisão; na Irlanda, os adolescentes podem ser penalmente responsabilizados por
qualquer delito a partir dos 12 anos; no Japão, a partir dos 14. Na Suécia,
adolescentes de 15 anos já podem ser presos.
O legado da
Copa do Mundo de 2014
Operários
trabalham no estádio do Corinthians em Itaquera, que sediará o jogo de abertura
da Copa do Mundo de 2014
A escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014 provocou a
desconfiança de muitos brasileiros, que temiam que as autoridades
repetissem erros na preparação
de outros eventos. A apreensão tem se confirmado conforme se aproxima a Copa,
com atraso na entrega de
estádios, gasto excessivo de
dinheiro público e falta de perspectiva de mudança na
infraestrutura do país.
Obras de mobilidade
urbana e de expansão dos sistemas de transportes públicos, essenciais também
para a realização da Olimpíada de 2016, mal saíram do lugar. O mesmo ocorre com aeroportos.
“É importante observar aí um traço da cultura brasileira de deixar tudo
para a última hora. Além disso, há um componente intencional, que provoca
superfaturamento de obras e despesas extras, relegando o interesse público a
segundo plano”, analisou Rui Alves Gomes de Sá, diretor pedagógico do curso
Pré-Enem, da Abril Educação. “O maior legado da Copa deveria ser mudar, para
melhor, a vida do brasileiro.”
Tragédias no
Brasil e o caso de Santa Maria
Estudantes
da UFSM participam de uma caminhada em homenagem às vítimas da boate Kiss
O trágico incêndio na boate Kiss, em Santa Maria
(RS), em 27 de janeiro, que fez 242 vítimas fatais, pode motivar questões sobre
falta de planejamento e de observação das leis por parte da sociedade
brasileira. Só depois do episódio é que boa parte das cidades brasileiras passou
a vistoriar casas noturnas e a exigir medidas de prevenção a incêndios e superlotação. Centenas de vidas
poderiam ter sido poupadas se a fiscalização correta
tivesse sido feita.
“Não existe um planejamento para evitar o acidente. Infelizmente, no
Brasil, o normal é esperar que algo aconteça para só então tomar providências”, diz o professor
e diretor pedagógico Rui Alves Gomes de Sá.